ABIFA avalia impactos da pandemia do novo Coronavírus na indústria de fundição

Nesta entrevista, Afonso Gonzaga, presidente da ABIFA, fala sobre os impactos da pandemia de COVID-19 na indústria brasileira de fundição.

Acompanhe a seguir esse bate-papo, que termina com um “pedido” de prudência de todas as partes envolvidas na cadeia de fundição, para que a vida pós-pandemia seja marcada pelo colaborativismo, visando a um bem comum: a saúde “física”, financeira e econômica do país.

Afonso Gonzaga, presidente da ABIFA

Afonso Gonzaga, presidente da ABIFA

O isolamento social horizontal como medida para conter a pandemia do novo Coronavírus tem trazido prejuízos incalculáveis para a indústria. Qual a posição da ABIFA com relação a essa questão?

Gonzaga: O isolamento social é uma das medidas preventivas mais eficazes observadas para mitigar o avanço da COVID-19, basta ver o exemplo internacional. No nosso entender, o que faltou foi um melhor planejamento, principalmente levando em consideração as dimensões continentais de nosso país. O Brasil tem a 5ª maior extensão territorial do mundo, com características bem diferentes de região para região. Enquanto na Itália temos uma população de 200 habitantes para 1 km², no Brasil são 20 pessoas para o mesmo espaço, o que faz muita diferença para a multiplicação do vírus.

Quais as medidas principais adotadas pelas empresas do setor para preservar, ao máximo, os empregos nesse período?

Gonzaga: Estamos utilizando todos os recursos possíveis visando à preservação dos empregos, a exemplo de férias coletivas, bancos de horas e todas as medidas previstas pela MP 936, agora aprovadas pelo STF. O importante é não perder o norte da recuperação. O mundo não vai acabar. Esta é mais uma difícil experiência, que com certeza vamos superar.

Em janeiro, a ABIFA estimava que o setor teria condições de crescer até 6% em 2020, alcançando a produção de 2,43 milhões de toneladas. Esta previsão já foi refeita?

Gonzaga: No início do exercício 2020, esperávamos rever esta projeção até para cima, devido às ações implementadas pelo governo federal, principalmente no que diz respeito à infraestrutura. No entanto, agora devemos considerar a parada de até três meses da indústria automotiva, responsável por consumir 56% de nossa produção, além de outros segmentos da indústria que já anunciaram paralisações e redução de produção. A recuperação vai acontecer, mas precisamos ver como o mercado internacional vai reagir. No setor de fundição, as exportações representam de 15% a 20% da demanda e não temos dependência da importação. Por outro lado, nosso cliente criou uma dependência de componentes importados, que neste momento pode ser um entrave para uma rápida retomada. Quanto à previsão desse ano, estamos fazendo uma nova consulta às fundições para uma projeção mais realista do futuro próximo.

Quais ações por parte do governo são capazes de ajudar a indústria brasileira nesse momento?

Gonzaga: Seria muito importante que o crédito fosse menos complicado. Infelizmente, as linhas liberadas pelo BNDES servirão apenas para as grandes empresas, que talvez não tenham necessidade de capital de giro. Para os empresários de micro, pequenas e médias empresas, esta ação ainda não chegou. Os bancos repassadores deveriam entender a realidade atual e não aproveitar o momento em que as empresas estão mais fragilizadas. Não adianta a oferta de taxas atrativas pelo BNDES, que na prática são acessíveis apenas para as grandes empresas.

Para a CNI, a agenda de inovação é urgente e precisa ser vista como prioridade para a superação da crise ocasionada pelo novo Coronavírus, visto que a capacidade das empresas inovarem é determinante para aumentar o desenvolvimento econômico e social do Brasil. A ABIFA compartilha essa opinião?

Gonzaga: Esta é uma pauta comum para todas as indústrias. O empresário que não estiver focado na busca constante de inovação e novas tecnologias está fadado ao insucesso. Só que isso custa dinheiro e dinheiro para indústria ainda é muito caro! Temos um dever de casa constante em nossa pauta de reivindicação perante o governo federal, que é o crédito para crescimento e desenvolvimento. A indústria é a principal plataforma de criação de postos de trabalho e riquezas; teremos que ser ouvidos.

Como a ABIFA está trabalhando nesse momento de quarentena?

Gonzaga: Todo o nosso time está atuando via teletrabalho. As atividades da ABIFA, à exceção de cursos e reuniões presenciais, continuam normalmente. Temos inclusive recebido contatos de empresas do mercado europeu, onde o impacto da pandemia é muito maior, procurando oportunidades para uma ação conjunta no mercado nacional, ou mesmo a colocação de seus produtos em nosso país. Também recebemos contatos visando à exportação para o Canadá, no momento em que a Índia ficou sem condições de manter esse país como cliente. São oportunidades que surgem com a crise e precisamos ficar atentos.

Qual a mensagem nesse momento da ABIFA para os seus associados e a indústria de fundição de uma forma geral?

Gonzaga: Uma mensagem que gostaríamos de deixar diz respeito à seriedade deste momento de pandemia. Não subestimem! Este processo nos trará enormes dificuldades, mas também um grande aprendizado. Que nossos industriais tenham a firmeza na condução de seus negócios, que nossos fornecedores entendam que não é hora de majoração de preços e que o governo federal se conscientize de uma vez por todas que somos o principal parceiro para grande retomada do desenvolvimento do Brasil.