CNI projeta três cenários para a involução do PIB em 2020

A CNI – Confederação Nacional da Indústria reviu as suas projeções para 2020 diante da pandemia da COVID-19. Segundo a entidade, o grau de sucesso das medidas econômicas para reduzir os impactos da crise provocada pelo novo Coronavírus e a extensão da quarentena serão determinantes para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.

Tendo isso em mente, o estudo Informe Conjuntural realizado pela Confederação traçou três cenários para 2020: um pessimista, um base e um otimista. Em todos eles, a economia brasileira encolherá, refletindo a retração já observada em março, que se mostrou forte o suficiente para reverter o resultado positivo do primeiro bimestre.

Para a entidade, o cenário mais provável é o base, em que a soma de todos os bens e serviços produzidos no Brasil (PIB) cairá 4,2%. A previsão pré-Coronavirus, feita em dezembro de 2019, era de crescimento de 2,5% este ano.

Esse cenário base se concretizará caso as políticas de auxílio econômico forem suficientes para impedir a insolvência de um grande número de empresas e evitar, de forma significativa, a redução da renda das famílias durante o isolamento social.

No cenário pessimista, a queda do PIB pode ser de 7,3%, enquanto na melhor das hipóteses é esperada uma retração de 0,9% em relação a 2019.

No caso do PIB industrial, a entidade acredita que a retração pode chegar a 7,0% (cenário pessimista), 3,9% (cenário base) ou 1,8% (visão mais otimista). Em janeiro, a previsão era de crescimento de 2,8% do PIB Industrial.

Desafios para a retomada da economia

A simulação feita pela CNI prevê que nem mesmo no melhor cenário será possível evitar totalmente o fechamento de empresas, a queda do faturamento e as dificuldades de acesso ao crédito, o que tornará os empresários mais cautelosos, com efeitos negativos diretos sobre o PIB.

Há também o fato de o comércio internacional ter sido bastante afetado pela pandemia, o que dificultará o crescimento das exportações brasileiras.

Na avaliação da entidade, o Estado deve manter a busca pela redução da dívida pública, comprometido com o equilíbrio fiscal e com o controle da inflação, aumentando a confiança no país e a atração de investimentos.

O governo também terá o desafio de conciliar essas metas com uma política fiscal expansionista, ainda que controlada, com redução da carga tributária e aumento dos investimentos públicos.

Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, esclarece que “o primeiro passo é manter a agenda da competitividade. Para sair da crise de forma sustentada, o país precisa, mais do que nunca, eliminar o Custo Brasil, com uma Reforma Tributária que crie um sistema mais eficiente e menos complicado”. Essa agenda, ainda que apresente poucos resultados de curto prazo, é fundamental para a atração de investimentos e o crescimento de longo prazo.

Cenário pessimista

O Informe Conjuntural da CNI mostra também que a queda do PIB brasileiro pode alcançar 7,3% em 2020, caso as medidas de auxílio econômico se mostrem insuficientes para impedir uma redução forte na renda das famílias e uma falência generalizada de empresas.

A crise provocada pelo Coronavírus atingiu o Brasil em um momento delicado. O país ensaiava a recuperação de uma retração que derrubou o PIB em mais de 7% até 2017, resultou em mais de 12 milhões de desempregados no início de 2020 e deixou famílias e empresas em situação financeira debilitada.

Cenário otimista

Menos provável de se concretizar, este cenário levaria a uma queda do PIB brasileiro de 0,9% no atual exercício.

Nesta visão, as medidas econômicas de proteção da renda e de acesso ao crédito evitariam que os efeitos econômicos de março e abril tivessem impactos permanentes, com queda significativa do emprego e da renda e que não desestruturassem os canais de distribuição e acesso aos insumos.

Nesse cenário, os impactos da crise seriam mais brandos e, assim, os estímulos fiscais e monetários seriam capazes de impulsionar a economia. Por fim, os agentes econômicos, famílias e empresários abandonariam rapidamente uma postura mais cautelosa tomada durante o período mais severo da crise.

Dessa forma, a recuperação seria mais rápida, com a atividade, já em agosto, de volta ao nível de fevereiro de 2020.

Avaliação das medidas emergenciais para combater crise

Conforme documento divulgado pela CNI, uma série de medidas foram adotadas pelo governo federal para enfrentar a crise de saúde pública e econômica provocada pela pandemia do novo Coronavírus. A questão agora é garantir que essas medidas sejam efetivas e tenham a intensidade necessária. Além disso, ainda faltam medidas para que as empresas tenham acesso aos novos recursos disponíveis para financiamento.

Em momentos de elevado risco, como o atual, as instituições financeiras elevaram os custos e as exigências de garantias para realizar as operações.

Para a CNI, a saída para o problema do acesso ao crédito exige que o risco seja assumido pelo Tesouro Nacional, como ocorreu na Europa e nos Estados Unidos. Segundo Robson Braga de Andrade, este “é o único modo de minimizar os pedidos de falência de uma grande quantidade de empresas e o desaparecimento dos empregos”.

Análise dos efeitos da pandemia sobre os principais indicadores da economia

• Emprego e renda: Os impactos da crise sobre estes fatores podem se estender para 2021. Em um cenário base, a taxa de desemprego em dezembro deste ano estará em torno de 12,5%, com acréscimo de cerca de um milhão de pessoas desocupadas em relação ao trimestre móvel encerrado em fevereiro de 2020.

• Inflação, juros e crédito: Apesar das medidas de ampliação da liquidez implementadas pelo Banco Central, estimadas em R$ 1,2 trilhão, é preciso buscar soluções adicionais para que o crédito chegue a tempo às empresas de segmentos e portes mais vulneráveis. O IPCA ficará abaixo do piso da meta de inflação (2,5%), atingindo 1,97%. A expectativa da CNI é que o ciclo de redução da Selic tende a continuar.

• Política fiscal: Espera-se uma deterioração do quadro fiscal para este ano, com déficit superior ao estipulado pelo orçamento e despesas que superam o limite estabelecido pela regra do teto dos gastos.

• Expectativa de saldo comercial e taxa de câmbio: A taxa de câmbio se manterá em patamar elevado nos próximos meses. O cenário para as exportações brasileiras não é favorável; os preços das commodities deverão se manter baixos. Assim, a evolução do valor das exportações em 2020 dependerá mais do aumento do volume, o que, devido à expectativa de queda no volume de comércio mundial, é um resultado pouco provável.