Page 25 - Revista Fundição & Matérias-Primas
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Com a pandemia, a relação fornecedor x cliente evidenciou ainda mais
          a importância da gestão. Novos mecanismos comerciais surgiram ou
          foram resgatados?

          Remo: A meu ver, a gestão de uma empresa é prioridade em qualquer
          cenário ou evento. Ela deve levar em consideração, de forma equâni-
          me, os acionistas, que não podem parar de investir, o cliente satisfeito,

          que é a face do mercado, e os colaboradores, sem os quais não há
          empresa nem cliente. Portanto, em momentos de grandes dificuldades
          operacionais, parcerias e trocas se impõem como mecanismos de fa-
          cilitação, tanto no alongamento do crédito, como no ajuste produtivo
          voltado à priorização de itens específicos, para não estagnar em defini-
          tivo o ciclo econômico.



                                                                              Remo De Simone, ex-presidente da ABIFA
          A desvalorização sem precedentes do real está trazendo uma nova di-
          nâmica ao mercado. Como isso está afetando a Itafunge?

          Remo: Certamente a desvalorização do real representa um grande incentivo ao exportador brasileiro, desde que
          o cliente não exija compensação cambial de reciprocidade. Por outro lado, o câmbio aumenta violentamente o

          preço dos insumos importados, cujo repasse aos clientes a curto prazo é inviável. Por fim, com a desvalorização
          há um êxodo da sucata metálica em natura ou fardos, pressionando os preços no mercado interno. No caso da
          Itafunge, que além de não exportar os seus fundidos, ainda paga mais caro por consumir insumos importados,
          a desvalorização não é em nada benéfica. Assim, eu diria que a desvalorização e a apreciação cambial, na reali-
          dade, somente atrapalham e desestabilizam os contratos.




          Com as “dificuldades” de importar, a demanda das ferramentarias está aumentando por conta de um movimen-
          to de nacionalização de peças. A Itafunge já sente esse movimento?

          Remo: De fato, alguns programas de nacionalização já estavam previstos e previamente acertados com o MDIC.
          No entanto, no caso da indústria automotiva sediada no Brasil, as importações de ferramental continuam sendo

          superiores a 85% da demanda setorial, conforme publicações do DECEX/Fiesp. As vantagens de importação
          direta, principalmente da Ásia, são inúmeras, uma vez que são realizadas com prazos de pagamento superiores a
          180 dias, via Eximbank ou compartilhadas com filiais locais. Também são importações com alto valor agregado,
          inexequíveis no Brasil pela altíssima sazonalidade, que impede investimentos privados, já que não temos inves-
          timento subsidiado. Assim, não acredito que haverá aumento da demanda nacional, pois não existe nenhum
          projeto de estímulos ao investimento no Brasil.


                                                                                        FMP, AGOSTO 2020      25
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