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COLUNA







                                                 Até quando?







          Enio Heinen




                 ssa é  uma pergunta que  A aceitação deste fato dependeu  industrial, particularmente de
                 todo o empresário indus- da anuência dos empresários, que  fundição, os órgãos burocráti-
         Etrial gostaria de fazer, em  se tornaram corresponsáveis pela  cos valem-se de sua prepotência
          face dos sérios problemas que en- criação de um sistema de propi- para exigir absurdos, tais como a
          frenta, os quais geram custos adi- nas até hoje praticado de forma  montagem de sistemas de preci-
          cionais, ditos custos  de transação  generalizada. O que ocorria de  pitação de partículas sólidas na
          ou  “custos  Brasil”.  Apresentare- prático era que, em lugar de pro- queima de GLP.
          mos, para seu julgamento e busca  teger o meio ambiente para bene-   A seguir, apresento dois casos prá-
          conjunta de soluções, algumas situ- fício  da  coletividade,  admitia-se   ticos que eu gostaria de submeter à
          ações que bem poderiam ter ocor- pagar propina regular a um fis-     apreciação de vocês. O primeiro re-
          rido em sua indústria, ao enfrentar  cal. Tanto no passado quanto no   fere-se a um pequeno empresário,
          as exigências burocráticas de nos- presente, a falta de ética atinge os   uma classe usada pelo governo para
          sos poderes públicos, em especial  dois lados desta relação.         altas propagandas institucionais.
          órgãos  ambientais, Ministério do   Hoje as peripécias continuam  Como empresa de um homem só,
          Trabalho e Receita Federal. Se não   e, do lado governamental, en- ele trabalhou e teve sucesso. Com
          forem  resolvidas,  essas  exigências   volvem  exigências  veladas  ou,  isso, resolveu  aumentá-la  e, após
          descabidas acabarão  por  inviabili-  raramente, expressas, para não  um par de anos, atingiu um porte
          zar as nossas empresas.           comprometer. Elas são caracteri- que  exigia licença ambiental, algo

          Lembro muito bem de uma tro- zadas, por exemplo, pelos prazos  secundário em comparação com os
          ca  de  ideias  que  mantive,  ainda  descomunais necessários para  problemas  até  então enfrentados.
          estudante de engenharia, com o  conseguir uma licença ambiental,  O pedido de licença foi encaminha-
          proprietário de um curtume de  hoje  uma  ocorrência  costumei- do por meio de uma empresa espe-
          Novo Hamburgo. Tratava-se de  ra. Parte deste processo começa  cializada, com absorção dos custos
          um dos muitos imigrantes que  com as prescrições constantes na  correspondentes. O fiscal da enti-
          vieram enriquecer o Brasil com  própria legislação. Quanto às es- dade ambiental envolvida  visitou
          seus conhecimentos técnicos.  pecificações  das  normas,  há  ca- a empresa e, arbitrariamente, apli-
          Queixava-se ele das novas regras  sos de inexistência de limites cla- cou uma multa. Um absurdo para
          governamentais de então, emi- ros a serem cumpridos ou ainda  uma entidade que, acima de tudo,
          tidas para combater a poluição  exigências descabidas, fixadas em  deveria estar  ali para  orientar,  es-
          ambiental. Não das regras em si,  função  de normas  estrangeiras  pecialmente  aqueles  que  demons-
          mas da forma como vinham sen- nas  quais  foram  “acertados”  os  tram boa vontade em resolver seus
          do aplicadas, com propostas de  limites. Na falta de especialistas  problemas. A multa foi paga para
          propina para a não implantação.  nos diversos ramos da atividade  evitar discussões. A este montante


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