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Sergio Cortella e Clóvis de Barros mas de comportamento básicas assim não for feito, corremos um
Filho, sob o título Ética e Vergo- para a execução de qualquer tra- sério risco de inviabilizar algumas
nha na Cara. Em palavras singelas: balho e por enormes deficiências de nossas atividades industriais, o
“como é que eu vou contar isso no treinamento. Este treinamen- que será um desastre nacional.
pra minha mãe”. Para mudar a cul- to deveria ser sistemático, com No passado, nossas entidades re-
tura existente, só há uma resposta programas definidos. Seria mui- presentativas não participaram do
possível para qualquer proposta de to útil que se adotasse a prática processo de estudo e implantação
corrupção: “NÃO”. usada na aviação. A implantação das normas de segurança. É tempo
Outra ameaça real à nossa com- de checklists é recomendável para de fazê-lo, com seriedade.
petitividade industrial são as Nor- as atividades mais perigosas. Para Uma das diretrizes recomendadas
mas de Segurança, recentemen- julgar os treinamentos que estão é fugir de uma tendência mundial:
te complementadas pela NR12, sendo executados, proponho ob- proibir. Existe proibição pra tudo.
sobre a qual pairam dúvidas e, servar como é feito o treinamen- O que não se especifica é como fa-
especialmente, críticas. A seguir to das brigadas de incêndio den- zer, pois isso dá trabalho e implica
comentarei alguns pontos, ques- tro da sua empresa. em assumir responsabilidades atí-
tionando e sugerindo detalhes a Outra atividade que merece obser- picas da burocracia.
serem atacados. vação mais cuidadosa é a SIPAT, As mudanças a serem feitas nas
O primeiro deles refere-se a um semana interna de prevenção de normas, a fim de facilitar a vida das
princípio válido em acidentes, acidentes do trabalho. Já examinas- indústrias, são enormes.
tanto de trabalho quanto de trân- te em detalhes o programa de uma Outra fonte de distorção e difi-
sito. Levantamentos mostram delas? O que se pretende é preve- culdades para a indústria brasileira
que a principal causa de aciden- nir acidentes de trabalho. Será que está na legislação, especialmente
tes é atribuída ao ato inseguro não há assunto suficiente a ser de- trabalhista e tributária. Reconhe-
do operador, numa proporção de batido sob esse título, a ponto de cem-se necessidades prementes de
9:1, comparada com as condições se incluírem em SIPAT’s palestras se fazer alterações básicas visando
inseguras dos equipamentos. A sobre AIDS e outros tipos de do- a atender às tendências de inovação
norma não dá a necessária aten- enças transmissíveis? Se o objetivo características dos nossos tempos.
ção a este fato. Muitas das novas é prevenir acidentes de trabalho, e Para que isso ocorra, é preciso que
regras complicam o trabalho do há razões de sobra pra isso, não é haja a participação ativa de líderes
operador, sem o protegerem me- em uma SIPAT que tais assuntos capazes de reconhecer o que é pre-
lhor. Deve-se observar ainda que devem ser abordados. Não há es- ciso fazer. A sociedade, como um
a causa principal de atos insegu- paço para eles. todo, deve fazer pressão para que
ros é a falta de treinamento. Deixar burocratas e profissionais as medidas sejam implantadas. Só
O problema começa na admissão de áreas de atividades não indus- assim estaremos respondendo à
de um novo funcionário, a quem triais decidirem sobre a prevenção pergunta inicial: “Até quando?”,
não se patrocina o treinamento de acidentes do trabalho foi uma com um “até hoje”. g
adequado, contribuindo para que temeridade. Recomenda-se uma re-
no binômio trabalho e segurança, visão criteriosa das normas estabe- Enio Heinen é diretor-técnico da
ambos sejam de qualidade infe- lecidas, com a participação de en- ABIFA, regional Rio Grande do Sul
rior. Continua por faltarem nor- genheiros e técnicos industriais. Se (enioheinen@gmail.com).
FMP, AGOSTO 2018 55